Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan e Cultura Oriental / Centro de Tai Chi da Família Yang – São Paulo

Representante Oficial da Associação Internacional de Tai Chi da Família Yang 

Minha trajetória como praticante, estudante, pesquisadora, instrutora de Tai Chi Chuan!

Publicado em 05/09/2024
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Professora Angela Soci conta um pouco de sua história de amor com a Arte do Tai Chi Chuan.

Tudo isso começou com uma grande pergunta: – Qual a finalidade de minha vida? qual o sentido desta existência tão fugaz? qual o significado de minha vida?

Uma história de amor:

Numa bela manhã de domingo, numa escola de filosofia onde fui buscar significado para minha existência, adentrei em uma aula de Taijiquan oferecida por um Mestre Chines. Quem me chamou mais atenção não foi realmente o Mestre, mas sim sua tradutora… Uma chinesa alta, com cabelos curtos e gestos amplos, mas especialmente com uma voz calma e penetrante, que traduzia o que o velhinho Chines estava tentando nos ensinar.

O movimento sutil do corpo que se expandia e recolhia, na medida em que o ar entrava e saia demonstrava a habilidade milenar daquele mestre, mas a voz da tradutora que dizia: – inspire elevando os braços e expire baixando os braços; era o que mais me chamou a atenção e tocou meu coração profundamente!

Naquele momento, minha mente foi levada a um tempo em que o tempo não existe, um lugar no espaço, aquele, do reconhecimento interno daquilo que estive buscando para dar sentido à minha vida, e afirmei dentro de mim: – é isto que eu quero praticar durante o resto de meus dias.

Em verdade eu tinha quase nenhum conhecimento sobre esta arte, apenas iniciava a ter aulas básicas, mas foi aí que encontrei o sentido de minha vida…na prática do Taijiquan, arte a qual dedico toda a minha vida, de corpo e alma.

É um universo masculino, o das Artes Marciais, mas o Taijiquan foge bastante ao comum destas artes, por conta de sua leveza, suavidade e principalmente método! Movimentos lentos, suaves, fluídos! Este lado da expressão de suas energias e que consiste em seu método fundamental de treinamento, se apresenta com um lado atrativo às mulheres, pois encanta e ao mesmo tempo oferece oportunidade de que possamos conhecer melhor nossa força.

Levei anos para ter coragem de ensinar, mas muito rapidamente adentrei ao estudo das teorias que compõem esta arte e mais uma vez me apaixonei, pois a visão da amplitude de suas aplicações foi magnífica! Compreender seus efeitos no corpo, na mente, no espírito e tudo o que é possível se desenvolver a partir da prática desta arte, enlevou meu coração a me manter atenta sempre a cada aula, instrução, orientação, correção de meu mestre, Professor Roque Severino, quem me integrou a todos os aspectos desta maravilha!

Com ele que foi meu amigo, professor, mestre, companheiro e pai de meus filhos, tive todos os aprendizados possíveis para me desenvolver nesta arte, e o que hoje professo, devo 100% aos 40 anos em que estivemos juntos!

Após dois anos em dar início ao ensino do Taijiquan, engravidei…e, pude constatar que a prática da arte do Taiji associada à geração da vida, é algo que deveria ser experimentado por todas as mulheres! Todo o tempo da gestação me mantive ativa, dando aulas. Consegui manter um equilíbrio alimentar, ausência de ansiedade, e principalmente o corpo forte para auxiliar no momento do parto. No início um pouco sonolenta, mas após o quarto mês a energia se redobrou e ao final, saí de uma aula as 11h30 da manhã de minha escola, para dar à luz ao meu primeiro filho no mesmo dia as 8h40 da noite.

As experiencias destes momentos são indescritíveis, constam de descobertas do corpo e da alma, que só mães sabem contar. Associadas à prática constante e diária do Taijiquan, se redobram e se intensificam, permitindo uma sintonia intensa com a vida sendo criada!

Após os partos, porque em verdade tive dois filhos, o retorno às aulas bem rapidamente, me conduziram a esta experiencia de nutrir-me bem para nutrir a criança! A prática entre as mamadas trouxe energia a este corpo, que deveria estar pronto para alimentar meus filhos! Momento intenso, de grande atividade!

Ao longo do tempo esta fase se tornou mais complexa, pois a demanda das crianças que crescem se transforma, assim como nossa própria vida…Tive momentos em que reconheci a necessidade de me recolher, para cuidar. Além de que, nunca parei as práticas, me ausentar das aulas foi uma opção importante para dar atenção à família e reconheço que este recolhimento veio para fortalecer ainda mais minha convicção sobre o que fazer em uma próxima fase.

Busquei respeitar os ciclos do Yin e do Yang em minha vida, especialmente neste contexto, quando minha presença em outros aspectos da vida era tão importante. Este reconhecimento me trouxe amadurecimento e consciência, além de uma vivência significativa da filosofia de nossa arte!

Foi a partir daí de forma muito importante, que pude constatar que o Taijiquan extrapola os centros de treinamento e adentra em nossas vidas, como parte coadjuvante em nosso desenvolvimento como seres humanos. Sua filosofia da não violência, da harmonia entre os opostos, da capacidade de adaptação às diversas circunstâncias, da administração dos conflitos, só faz sentido, quando enfrentamos as adversidades e colocamos em prática a experiencia ganha dentro dos treinos, em sala de aula.

Essa é a via de meu ensino e o conselho que ofereço a todos os praticantes sejam homens ou mulheres!

Em meu caminho encontrei poucas Mestras de Taijiquan. Mas uma em especial me chama a atenção, a esposa do Mestre Yang Jun, Mestra Fang Hong, que também, como esposa de seu professor, teve que se adaptar a sua posição por um lado, mas por outro se destacou, tanto como pessoa como professora de Taijiquan. Sua força para dar apoio ao seu esposo, e ao mesmo tempo cuidar dos dois filhos que tiveram e ainda, dedicar-se à prática a ponto de ensinar com maestria! Um exemplo belíssimo que causa admiração!

No geral, as esposas dos Mestres, são também Mestras…Na família Yang isso é bem comum, tanto que a esposa do Mestre Yang Zhenduo também é Mestra de Taiji. Somente não precisa figurar, pois seu valor inestimável é reconhecido naturalmente, tanto por seu esposo, como por toda a comunidade de praticantes!

Na atualidade esta arte tem sido reconhecida como uma maravilha a ser praticada por todos! Foi elevada pela Unesco como “Patrimônio Imaterial Cultural da Humanidade”. A cada ano vai se estabelecendo como parte da vida de pessoas do mundo todo, e hoje como Prática Integrativa.

O importante é que as pessoas que se dediquem a ensinar o Tai Chi Chuan tenham em mente que é fundamental respeitar os fundamentos tradicionais desta Arte, que justamente continua viva, por levar adiante o legado de seus criadores!

Sejamos homens ou mulheres, temos essa missão de preservar e difundir com profundidade e principalmente responsabilidade, o Tai Chi Chuan para que todos os seus benefícios, que abrangem o corpo, a mente e o espírito humano possam ser experimentados por todos aqueles que o venham a praticar!

Professora Angela Soci – 2024

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